Stadt: München

Frist: 2025-03-15

Beginn: 2025-09-15

Ende: 2025-09-19

URL: https://www.romanistik.uni-muenchen.de/lusitanistentag25_pt/simposios/literatura/assis/index.html

Machado de Assis entre o engajamento e a arte pura

Sarah Burnautzki (Universität Heidelberg)
Núria Baltrons León (Universität Heidelberg)
Audrey Ludmilla do Nascimento Miasso (Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR, Brasil)

A posição de Machado de Assi na literatura brasileira e mundial pode ser considerada singular em todos os aspectos. Neto de um escravo liberto, ele cresceu em condições precárias no Rio de Janeiro do século XIX, ficou órfão muito cedo e recebeu pouquíssima instrução escolar. Isso torna ainda mais extraordinário o fato de seu talento literário tê-lo tornado não apenas cofundador da Academia Brasileira de Letras em 1896, mas também seu primeiro presidente. A obra de Machado desafia qualquer tentativa de categorização em correntes literárias estabelecidas – na verdade, sua posição na contracorrente em nível estético e ideológico é uma das características mais marcantes de sua escrita. O fascínio aparentemente atemporal de seus textos tem sido repetidamente atribuído à sua complexidade sutil, que abre espaços aparentemente infinitos de significado para interpretações que continuam a se multiplicar e diversificar com o tempo e com a mudança dos contextos de pesquisa. Nesta seção, queremos analisar tanto os textos canônicos quanto os “apócrifos” de Machado de Assis sob a perspectiva dos estudos literários e culturais e tornar produtivos os conceitos de reorientação, revisão e reparação.

I Reorientações no universo literário de Machado

Devido a certos experimentos narrativos que realizou, especialmente após 1880, Machado de Assis é considerado por muitos um precursor do modernismo e até mesmo do realismo mágico. O autor é apreciado e admirado por seus romances, mas o que muitas pessoas não sabem é que ele não escreveu apenas romances, mas explorou todos os gêneros literários e que gostava particularmente de transgredir as fronteiras desses gêneros. Além dos romances, ele também escreveu um grande número de contos, dramas quase esquecidos, ensaios, crônicas e poemas, muitos dos quais ainda aguardam análise dos estudiosos da literatura. É importante que as pesquisas que se debruçam sobre esses gêneros tidos como secundários na carreira do autor também ganhem fôlego, pois nos ajudam a enxergar Machado em sua completude e complexidade, além de revelarem traços constitutivos da formação do autor. Não se trata de negar, evidentemente, a importância do romance machadiano, mas de reorientar o olhar dos pesquisadores para um espaço ainda carente de exploração.
As contribuições desta seção recartografiam o universo literário de Machado em relação a:

• As várias formas textuais hoje amplamente desconhecidas, como o drama e a poesia;
• Experimentos formais nas fronteiras dos gêneros, como a poesia narrativa, o drama lírico, os elementos dramáticos em romances, etc. e
• Cartografias intertextuais que integram os textos mais e menos conhecidos de Machado em novos contextos de significado.

II Revisões da pesquisa literária sobre Machado

As pesquisas sobre Machado de Assis há muito se dividem em dois campos. Enquanto alguns destacam principalmente o historiógrafo que elabora retratos sociais satíricos da elite branca do Rio de Janeiro, outros se concentram no esteta que, graças à sua incomparável arte narrativa, consegue elevar a literatura de um continente inteiro à esfera da literatura mundial. Embora o estudo seminal de Roberto Schwarz sobre Machado (Um Mestre na Periferia do Capitalismo) tenha lançado as bases para uma compreensão dialética da relação entre forma e conteúdo, a fim de superar a divisão problemática entre a pesquisa centrada no texto e a pesquisa baseada no contexto e interpretar a produção literária singular e paradoxal de Machado como uma forma estética de suas condições materiais específicas, ele o fez sem levar em conta a realidade de sua experiência de racialização. Nesta seção, pensamos com Schwarz e além de Schwarz e examinamos a modernidade da obra de Machado como uma expressão de sua “dupla consciência” (W.E.B. Dubois) de sua própria experiência de racialização e da existência de uma norma social ‘branca’ invisível. As contribuições nessa área consideram o engajamento de Machado e sua busca por formas estéticas ‘puras’ como inter-relacionados e se envolvem com as revisões dos estudos sobre Machado em relação aos seguintes aspectos:

• A história do ‘branqueamento’ de Machado nos estudos machadianos;
• As técnicas estéticas de Machado de referência indireta aos temas da escravidão e do racismo e
• As desconstruções estéticas da performance social da ‘branquitude’.

III Reparações da imaginação individual e coletiva

A obra de Machado deriva muito do seu poder estético e político e da sua atualidade, de modo que suas formas artísticas funcionam como ferramentas para refletir sobre situações complexas de dominação, opressão e percepção da alteridade e da diferença. Ao retratar o absurdo da dominação de uma minoria privilegiada sobre uma maioria oprimida e explorada, Machado também desafia nossa imaginação de formas alternativas de organização humana. Os romances, contos e poemas de Machado nos dão a oportunidade de repensar a opressão histórica e contemporânea em termos de transformação, reparação e compensação. Nesse sentido, o trabalho projetado nesta seção visa pensar na escrita de Machado como uma prática reparadora para conectar experiências passadas e presentes, como uma ponte entre tempos e espaços para projetar formas de agir e colocar o conhecimento no papel para comunidades futuras. Portanto, também queremos nos envolver com os processos cognitivos desencadeados pelas implicações políticas e morais dos textos de Machado e aceitamos contribuições sobre tópicos como:

• Como Machado molda os processos de percepção e alterização e como ele marca sua artificialidade e mutabilidade?;
• Como Machado negocia as possibilidades de identificação e a criação de empatia? e
• Como Machado cria um imaginário colonial, como ele visualiza suas consequências sociais reais e como ele permite a desconstrução crítica dessas imagens?

Agradecemos o envio de resumos (aproximadamente 400 palavras) para palestra de 20 min., e do breve sumário bio-bibliografico, até a data limite de 15 de Março de 2025 para a direção cientifica da seção: sarah.burnautzki@rose.uni-heidelberg.de, audreyludmilla@gmail.com, nuria.baltrons_leon@stud.uni-heidelberg.de O congresso será em língua portuguesa. Os custos de viagem e alojamento não serão reembolsáveis pela comissão organizadora.

Beitrag von: Núria Baltrons León

Redaktion: Robert Hesselbach