CfP: Revisões/representações da violência política nas literaturas de Portugal e do Brasil: experiência, memória, reparação
Stadt: München
Frist: 2025-03-15
Beginn: 2025-09-15
Ende: 2025-09-19
URL: https://www.romanistik.uni-muenchen.de/lusitanistentag25/simposios/literatura/revisionen/index.html
Esta seção examina representações literárias de experiências pós-coloniais e pós-ditatoriais de violência em Portugal e no Brasil. O foco está principalmente na “revisão”, desde a distância temporal, das condições de violência política (por exemplo, em uma perspectiva transgeracional) em obras da literatura contemporânea do século XXI. Nos anos recentes, a violência política tem sido considerada na literatura principalmente em termos da inscrição de lembranças dolorosas na memória coletiva. Os memory studies forneceram uma ampla gama de ferramentas para isso. No entanto, a discussão no contexto dessa seção pergunta menos sobre a função arquivística dos textos do que sobre as implicações hermenêuticas e éticas: O que significa retratar a violência por meio da literatura? Não há sempre um voyeurismo inerente em toda representação de violência? Qual é a tarefa ética da literatura e que meios estéticos existem para cumpri-la (especialmente com relação a representações de violência)? Isso também envolve a elaboração de processos estéticos de mediação, cujas diferentes funções são (também) condicionadas pela distância temporal dos textos em relação aos eventos representados.
Na literatura lusófona do século XXI, há vários textos que tratam da violência política e do terror de Estado no decorrer do século XX. A guerra colonial portuguesa (ou as guerras de independência dos PALOP) foi tematizada desde cedo na literatura portuguesa, seja por Antonio Lobo Antunes ou João de Melo. Textos de autores mais jovens, como Persona (2000), de Eduardo Pitta, ou Baía dos tigres (2000), de Pedro Rosa Mendes, revisam essas experiências de várias maneiras: As feridas causadas pela ditadura de Salazar e pela guerra colonial, que foram cobertas por um véu de silêncio durante muito tempo, são novamente abertas na literatura e introduzidas no debate nacional. Recentemente, a banda desenhada portuguesa também tem se concentrado cada vez mais em Salazar e suas guerras na África, por exemplo, Cinzas da Revolta (2012), de Miguel Peres e Jhion; Os Vampiros (2016) de Filipe Melo e Juan Cavia; Filhos do Rato (2019) de Luís Zhang e Fábio Veras oder Salazar, Agora na Hora Da Sua Morte (2006) de Miguel Rocha e João Paulo Cotrim. No Brasil, por outro lado, a ditadura militar instaurada em 1964 demoraria até 1985 para chegar ao fim. Diversos textos literários do século XXI relembram e visualizam o período de terror de estado durante a ditadura a partir de uma perspectiva retrospectiva ou transgeracional. Uma revisão dos eventos de violência política, tortura e ditadura pode ser encontrada, por exemplo, em Não falei (2004), de Beatriz Bracher; em Retrato calado (2012) de L. Roberto Salinas Fortes; K. Relato de uma busca (2014) de Bernardo Kucinski; Ainda estou aqui (2015) de Marcelo Rubens Paiva o, mais recentemente, em Avenida Beberibe (2024) de Claudia Cavalcanti.
Em contraste com outras formas de representação, a literatura geralmente se preocupa com a dimensão da experiência direta da violência política, por meio da qual sua representação literária levanta questões éticas urgentes sobre responsabilidade e o “sofrimento dos outros” (Arendt; Falke et al.; Rothberg; Sontag*). Por esse motivo, gostaríamos de discutir sobre as implicações e consequências éticas, estéticas e narratológicas para o presente, como resultado da revisão literária de experiências históricas de violência – entre experiência, memória e “processamento” ou reparo. As possíveis perguntas para o trabalho da seção são:
- Que questões e problemas narratológicos, afetivos e éticos surgem na reapresentação e revisão da experiência de “cenas” de violência política no contexto da guerra (colonial) e da ditadura?
- Quais gêneros (terror, testemunho, autoficção etc.) são usados para esse fim e como eles determinam a maneira pela qual a violência é tematizada/representada (incluindo elipses, alusões)?
- Que formas de violência (violência cotidiana, violência militar, violência espetacular) podem ser diferenciadas e como as revisões/reparações dessas experiências têm um efeito além do momento historicamente situado?
- Até que ponto a literatura também pode abrigar um potencial de cura por meio dos modos de representação mencionados acima?
- Em qual arquivo histórico (literário) e textual as representações modernas da violência política se inscrevem e quais referências intertextuais são usadas?
Agradecemos propostas para uma possível contribuição até 15 de março de 2025. Por favor, enviem uma breve descrição da conferência (máx. 300 palavras, incluindo um título preliminar) e um breve CV acadêmico (máx. 150 palavras) por e-mail aos responsáveis da secção: Jobst Welge (jobst.welge@uni-leipzig.de) e Janek Scholz (janek.scholz@mail.huji.ac.il).
*Arendt, Hannah. On Violence. 1970; Falke, Cassandra; Fareld, Victoria; Meretoja, Hanna. Interpreting Violence. Narrative, Ethics and Hermeneutics. London, 2023; Rothberg, Michael. The Implicated Subject. Beyond Victims and Perpetrators. Stanford, 2019; Sontag, Susan. Regarding the Pain of Others. London, 2003.
Beitrag von: Janek Scholz
Redaktion: Robert Hesselbach